Um dos grandes mitos populares sobre esta categoria de remédios é que eles podem causar apatia ou “adormecimento” emocional
Este é um dos mitos populares conhecidos sobre antidepressivos. É importante lembrar que, quando falamos em antidepressivos, estamos falando de uma classe grande de remédios, com modos de ação bem distintos um do outro. Hoje, há disponíveis no Brasil cerca de 50 medicamentos diferentes.
Igualmente, quando falamos de depressão não nos referimos a uma única condição. Ela pode se manifestar em intensidades diferentes, de leve a grave. Os antidepressivos foram criados para que atuassem na forma grave da doença, justamente aquela que costuma gerar um forte impacto na vida de uma pessoa.
Deprimidos graves muitas vezes têm uma sensação de desânimo e falta de motivação tão grandes que, por vezes, não conseguem se levantar da cama. Em decorrência disso, muitos são demitidos. Eles também podem ter alterações importantes no apetite, perdendo ou ganhando muito peso, além de sensação de desesperança e ideias relacionadas à própria morte. É para esses casos que os remédios se prestam.
Diferentemente do que muitos acreditam, o antidepressivo não anestesia as emoções. Ao contrário: ele corta o ciclo de anestesiamento em que essas pessoas se encontram e, aos pouquinhos, vai restaurando o humor mais positivo e a alegria.
Cabe a nós, médicos, fazer uma calibragem fina desses remédios, para que a pessoa que precisa fazer uso deles não veja as suas emoções descompensadas. É raro, mas às vezes acontece de um doente ter o que chamamos de “virada”, ou seja, sair de um estado de tristeza para um estado de euforia muito grande (mania). Também precisamos estar atentos a isso.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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